Fui ao Momotaro apenas uma vez, um pouco depois que abriu (e você pode ler aqui), em 2012. Já conhecia o trabalho do chef Adriano Kanashiro e fiquei feliz em perceber que, com o tempo, sua criatividade nas receitas e precisão na execução não só estavam presentes na nova casa, mas ainda mais apuradas. Assim, fiquei ansioso em conhecer sua nova empreitada: a sala de degustação no andar superior do Momotaro, onde os (poucos) convivas se refastelam com um jantar incrível, feito na sua frente pelo próprio Kanashiro. A sala, de decoração elegante e iluminação discreta, tem apenas 18 lugares (seis no balcão) e só é possível degustar esse menu mediante reserva, de terça a sexta. Só digo uma coisa: é um banquete japonês.

Um pequeno toque arquitetônico: atum tataki com uma esferificação de mostarda ancienne e teriyaki, e ovas de masago com molho cítrico
Não há cardápio – o chef cria as receitas semanalmente, de acordo com os ingredientes que têm à mão e com sua inspiração. Nunca são menos de 12 tempos, mas pode chegar a 14 (como na noite em que jantei ali). O preço também varia com o número de pratos e ingredientes servidos. Em geral fica entre R$ 220 e R$ 250 por pessoa. No meu jantar em questão era o preço mais alto, e ao lerem o que comi vocês entenderão por quê.

Tão bonito quanto saboroso: sushi de barriga de salmão, molho de limão com wasabi e um pouco de azeite
Caro? Depende da sua expectativa. Afinal, você tem um dos melhores chefs da culinária japonesa em SP lhe servindo pessoalmente receitas que dificilmente você encontraria num menu comum. E que sequência maravilhosa! Me lembrou um dos mais famosos repastos do cinema, o filme A Festa de Babete, aqui obviamente na versão nipônica. Mesmo que você não queira passar por toda a degustação especial, a cozinha de Kanashiro é tão boa que eu recomendo uma visita ao Momotaro para provar o cardápio regular da casa. Mas, se puder, passe pela experiência completa no segundo piso da casa. Você, assim como os peixes brilhantemente preparados pelo chef, estará em boas mãos.
Muito amor por esse prato: uni (ouriço-do-mar), vôngoles e ostra à milanesa. Você mesmo derrama sobre eles uma espécie de missoshiru cremoso com mandioquinha.
Tartare de toro com maionese chique (feita com wasabi fresco ralado, limão japonês, ovo orgânico e azeite de oliva). Acompanha um big mandiopã de nori.
Outra peça respeitável nesse mosaico: sushi de peixe serra, katsuobushi e alho negro. Teve outra grata surpresa (que o tonto aqui não fotografou): peixe sapo (também conhecido por tamboril) grelhado, sobre purê de kabocha, alga marinha e pesto de shissô. “Em alguns países, chamam de ‘lagosta dos pobres’”, conta o chef.
Esse é o “escondidinho japonês”: peixe carapau, com molho cítrico, cebolinha e gengibre, coberto com arroz de sushi com tinta de lula e um toque de molho de pimenta dedo de moça.
Uma “raridade” – na verdade, algo que eu nunca havia comido: mariscos brancos. Eles acompanham o ovo perfeito e cubos de cogumelo eringui, com mel trufado.
Mais uma proteína bem inesperada nesse repasto: king crab da Noruega com ovos de salmão, arroz de sushi, molho apimentado e um pequeno momotaro (o tomatinho adocicado).
Ostra do Sul com ovas de mujol (chamado caviar espanhol) e temperada com limão galego. Ao fundo, vieira de Santa Catarina com ovas de salmão.
A receita chega em dois pratos. No de cima, uma casquinha crocante com gergelim. Abaixo, um sushi de buri com enguia, com defumado de madeira de macieira.
Kanashiro deixa o melhor para o final: seu já classico sushi de atum com foie gras, acompanhado de caju confitado em mel e saquê, e posteriormente caramelizado.
Fechando o banquete, a sobremesa: morangos flamejados com licor de ume, amoras e blueberries frescas, creme de framboesa, suspiros de chá verde com gergelim e sorvete de gengibre.
Momotaro – Rua Diogo Jácome, 591, Vila Nova Conceição, tel. (11) 3842-5590, www.restaurantemomotaro.com.br